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Aldeia Campista sumiu do mapa, mas continua viva nas ruas

  • Leandro Neves
  • 26 de mar. de 2017
  • 4 min de leitura

A Aldeia Campista, parece um nome familiar? Quem nunca ouviu falar sobre este local provavelmente aposta que fica em algum rincão do interior ou mesmo em algum bairro ou distrito afastado do centro da cidade. Pode até vir à cabeça que possa ser uma localidade do município de Campos, no norte fluminense.

Mas nada disso. Este recanto carioca fica - ou ficava - em uma das regiões mais tradicionais e urbanizadas da capital do estado. Embora não seja mais considerada um bairro, a Aldeia para antigos moradores ou saudosistas ainda está no mesmo lugar, em territórios que hoje pertencem oficialmente aos bairros do Andaraí e Vila Isabel.

Região aproximada da Aldeia Campista

Sem limite físico definido, o que se tem certeza é que o bairro nasceu depois da instalação da fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos Confiança, em 1885. A indústria trouxe desenvolvimento para o entorno e ajudou a povoar a região, que ganhara 12 anos antes o bairro de Vila Isabel, planejado e construído por Barão de Drummond.

Antiga Fábrica Confiança. A fachada foi tombada pelo município em 1993. Hoje, como uma espécie de shopping, o local abriga um hipermercado e outras lojas

Autor: Leandro Neves

No entorno da fábrica, foi erguida uma vila operária de casas amarelas que ajudou a formar a vizinhança da Aldeia Campista. Os habitantes dali acabaram formando um bairro de classe média e média baixa ao longo das décadas, ao contrário da vizinha Tijuca (classe média alta). O convívio dos moradores e as relações que estabeleciam acabou virando renomada literatura brasileira.

Casas que faziam parte da vila operária. Essas ficam bem em frente à entrada da antiga fábrica

Autor: Leandro Neves

Nelson Rodrigues transformou a Aldeia em histórias que publicou durante décadas nos jornais e livros. Os contos de A Vida Como Ela É, por exemplo, mostram hábitos e comportamentos da localidade, como os nascimentos feitos por parteiras, os velórios realizados em casa, os vizinhos fofoqueiros e intrometidos, a forte boêmia nas décadas de 30 a 50, entre outras características.

A conversa de vizinhos pela janela ou na beira da porta, outra marca comportamental da região, é um dos resquícios que o passado deixou no local. Pelo menos dentro da antiga vila operária, que continua de pé e ocupa várias ruas do Andaraí e Vila Isabel, conforme o mapa abaixo. Com o fim da fábrica em 1965, grande parte dos trabalhadores continuaram morando nas casas e até hoje muitos descendentes deles ali vivem.

Perímetro, em laranja, marca os locais onde se encontram as casas da antiga vila operária

Em algumas outras ruas desses bairros que tomaram o território da Aldeia, esta relação amistosa entre os moradores também é possível de ser vista. Isso porque a maioria das residências é composta por casas e vilas. Muitos prédios, principalmente no final do século XX e início deste, foram edificados, mas ainda são minoria nas ruas internas.

Senador Soares, uma das pacatas ruas de casas da região, que hoje pertence ao bairro de Vila Isabel

Autor: Leandro Neves

Nos bares e padarias da região, os cumprimentos e conversas são comuns. O contato acaba se tornando natural, ao se encontrarem pela rua, ao levarem o cachorro para passear, varrerem e lavarem a calçada ou simplesmente por se esbarrarem ao entrar e sair de casa. Parece que o sentido que o nome antigo carregava ainda paira por lá.

O clima de interior de fato continua, mesmo sendo uma região tão próxima ao Centro. A maioria das ruas são arborizadas, limpas e calmas. As casas e prédios são bem conservados, típicos de uma vizinhança de classe média e classe média alta. O Parque N da Tijuca ao fundo da paisagem cria um ambiente ainda mais bucólico, aconchegante e romântico.

O tempo, assim, fez com que a Aldeia deixasse a tradição operária e ganhasse moradores com remunerações mais altas. A proximidade com o bairro da Tijuca colaborou com a atração da população com maior poder aquisitivo. Em termos de localização, está muito bem situada no centro da Grande Tijuca, o que é um fator de valorização para imóveis e terrenos.

Bastante arborizada e repleta de residências de classe média e média alta, alguns edifícios despontam na paisagem da Rua Araújo Lima, em Vila Isabel

Autor: Leandro Neves

Por isso mesmo, o acesso aos bairros ao redor é fácil e rápido. Em poucos minutos de caminhada se pode chegar às principais vias como Rua Conde de Bonfim, Praça Saenz Peña, Boulevard 28 de Setembro, Rua Uruguai e Rua Barão de Mesquita. Isto é, bastam poucos passos para sair da tranquilidade das ruas internas rumo ao burburinho do comércio e trânsito da área.

Se o padrão de vida melhorou e o tempo trouxe evolução, por outro lado a maior joia material da história é cultivada. A antiga fábrica responsável pelo povoamento da região tem toda sua fachada ao redor preservada e bem cuidada. Pela arquitetura e dimensões, a tradição se impõe sobre as construções ao redor e revela quem chegou ali primeiro.

Antiga Fábrica e construções da região. Arquitetura se destaca na paisagem

Autor: Leandro Neves


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