Rio da Grande Tijuca, que já serviu para navegação e subsistência de índios, sobrevive com ajuda de
- Leandro Neves
- 18 de mar. de 2017
- 4 min de leitura

Morro do Andaraí, no lado esquerdo da foto. Lá em cima nasce o antigo Andira-y
Autor: Leandro Neves
Quem passa por Andaraí, Vila Isabel e Maracanã, na Zona Norte, raramente imagina que há séculos os bairros abrigavam um rio tão caudaloso que índios da região chegavam a navegar por ele.
Os tamoios, a tribo do local, não só utilizavam o Rio dos Morcegos, hoje Rio Joana, como também pescavam nele. A grande quantidade dos mamíferos voadores era provocada pela quantidade de árvores de sapoti e amêndoas, entre outras frutíferas.
Apesar do significado do nome, este corpo d´água nunca foi assim chamado. Na linguagem desses índios, o termo era "Andira-y", que foi aportuguesado para Andaraí. De tão importante, ele nomeou região a da Grande Tijuca até a segunda metade do século XIX, que se dividia entre Andaraí Grande e Pequeno.

Porto do Rio com região da Grande Tijuca ao fundo no final do séc 18. O Rio Joana nasce no alto do Morro do Andaraí, no Maciço da Tijuca, e deságua na Baía de Guanabara.
Boa parte do Rio Joana foi canalizada ou coberta ao longo do século XX. O trecho canalizado pode ser visto na Rua Maxwell e na Av. Prof. Manoel de Abreu, onde ele divide as pistas de automóveis, e ainda na Av. Eng. Octacílio Negrão de Lima. Vê-lo totalmente natural, sem qualquer intervenção humana, só perto de sua nascente.

Rio Joana no Morro do Andaraí, próximo à nascente
Autor: Ecomuseu Amigos do Rio Joana
O rio, que deságua na Baía de Guanabara, nasce no Largo da Pedra da Mina, no alto do morro do Andaraí. As águas saem de dentro da grandiosa formação rochosa do local, desce a comunidade sem qualquer intervenção humana durante um trecho e vira um canal logo em seguida. Rapidamente ele desaparece pelas ruas do bairro para aparecer novamente na Rua Maxwell.
Nesta via é difícil ver vida dentro do rio, cujas águas são escuras. Como a canalização do Joana é funda, só em dias de muita chuva que o rio fica cheio. A vida que se consegue enxergar ali com frequência ou é pela flora, que nasce em um ponto ou outro, ou pela presença das garças.

Rio Joana na Rua Maxwell. Embaixo de uma das pontes sobre o rio, está uma garça ao lado de uma saída de água
Autor: Leandro Neves
Essa ave habita a região e pode ser encontrada dentro do canal pela manhã ou durante a tarde. Sua presença ali é um suspiro diante da poluição, que frequentemente é vista em forma de lixo sólido ou pela escuridão das águas.
A base alimentar das garças são os peixes, os pequenos anfíbios, crustáceos e outras espécies de animais aquáticos de pequeno porte. Além do embelezamento dessa ave para o local, ela é um indicativo vital.
Um dos córregos que desemboca no Joana, localizado na Rua Via Láctea, é um dos indicativos de que a saúde deste corpo fluvial precisa ser melhor cuidada. Em uma ronda feita no fim de tarde da última sexta-feira, dia 10, foi verificado uma grande quantidade de lixo que estava bem próximo de ser despejado no rio.

Córrego poluído na Rua Via Láctea
Autor: Leandro Neves
Caso esses resíduos tenham sido levados para o local através das águas pluviais, houve tempo suficiente para a Comlurb fazer a limpeza do córrego. A última chuva registrada na região foi na segunda-feira anterior, dia 6.
A salvação

Traçado do rio no Morro do Andaraí
Em 2011, um casal de moradores do Morro do Andaraí , Rosângela Tertuliano e Luís Paulo, cansaram-se de tanta sujeita perto nos primeiros metros do rio, ainda na comunidade. Os dois então tomaram a iniciativa de distribuir cartazes de conscientização pelo morro, a organizar mutirões de limpeza e a entrar em contato com a Prefeitura e a Comlurb para recolher o material e ajudar na fiscalização do Joana.
O projeto, que ganhou apoio da Fundação Getúlio Vargas e da Faculdade Batista e a consultoria do historiador Dell Delambre, hoje é o Ecomuseu Amigos do Rio Joana. Além dos mutirões de limpeza, há uma série de atividades, como exposições de artes, para conscientizar a população da comunidade sobre a importância histórica e atual do rio para a localidade.

Mutirão de limpeza na nascente do rio, na Pedra da Mina
Autor: Ecomuseu Amigos do Rio Joana
No passado, quando a água da Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) não chegava ao morro, moradores utilizavam a nascente da Pedra da Mina. A fonte servia não só para a sobrevivência dos habitantes do local, como também para a lavagem de roupa.
A importância da fonte está refletida na cultura do bairro, que possui uma escola de samba em homenagem à responsável pela existência do morro do Andaraí. Batizada de Flor da Mina, a agremiação não só preserva a história local e a representa no carnaval, mas também apoia as ações do Ecomuseu.
REPORTAGEM: PARTE 2
Na semana que vem, o trabalho deste espaço será mostrado em uma reportagem exclusiva sobre o projeto. O foco será sobre: a origem da iniciativa, a união dos moradores e outros membros da sociedade civil, a recuperação do rio e a importância da cultura e história para a preservação do meio ambiente da região.
Comments