Vendedores antigos ajudam a manter a força do comércio de Madureira
- Leandro Neves
- 14 de mar. de 2017
- 4 min de leitura

Av. Min. Edgard Romero é a principal via comercial da região. A variedade de produtos é imensa nas barracas espalhadas ao longo de todo o logradouro
Autor: Leandro Neves
É fácil encontrar ambulantes e camelôs que estão há décadas no bairro. Vários negócios envolvem toda a família.
A Madureira de 2017, como há um século, continua com suas ruas agitadas. Desde o amanhecer até o final do dia, o burburinho toma conta das principais vias da região. Habitantes e comerciantes antigos são as pessoas que, melhor do que ninguém, conseguem avaliar o que mudou ao longo das últimas décadas.
Há quem diga que o número de ambulantes e camelôs tenha aumentado, assim como a violência. Nesses dois quesitos, nada muda em relação ao restante da cidade. Ainda mais com a crise no país e no estado do Rio, onde o emprego informal é a única saída para muita gente.

Estantes da Av. Edgard Romero, a principal. Ao fundo, o Morro de São José
Autor: Leandro Neves
Um dos acontecimentos marcantes que mudou o comércio da região nos últimos anos foi o incêndio que destruiu completamente o Mercadão de Madureira, em 2000. O local, então, passou por uma enorme reforma e, no ano seguinte, voltou novo e moderno.
O shopping popular do subúrbio é concorrente da Saara (Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), que fica no Centro do Rio. O de Madureira leva larga vantagem por contar com um espaço fechado, com escadas rolantes e ar condicionado.
O tamanho do Mercadão, que foi ampliado após o incêndio, pode ser dimensionado por suas 580 lojas. Elas atendem um público de cerca de 80 mil pessoas por dia, segundo a administração do local. Em 2014, foi elevado a patrimônio cultural da cidade.

Barraca de bolos, doces e empada de um dos mais antigos comerciantes da região
Autor: Leandro Neves
Mas este espaço comercial não está sozinho disputando a atenção de quem mora ou visita o bairro para fazer compras. Além das lojas que dominam as principais vias, os camelôs e ambulantes oferecem uma variedade imensa de produtos.
Os itens de vestuário, bijuterias, frutas, verduras e legumes são abundantes entre os vendedores de rua. Mas com eles se encontra também barracas de peixe, temperos, gengibre, laticínios e pães.
Comércio de família
Ao parar para comprar uma fruta, não é difícil você se deparar com vendedores que tem a profissão no sangue. Vários deles estão nas ruas de Madureira há muito tempo ou assumiram um antigo negócio familiar.

Tiago, de camiseta, vende frutas há 20 anos no bairro
Autor: Leandro Neves
Tiago Neto, vendedor de fruta na Rua Domingos Lopes, trabalha há 20 anos no bairro. Toda sua família trabalha junta na barraca e só descansa no domingo. De segunda a sábado, o horário é extenso: das 8h às 20h.
Já em outro ponto do bairro, próximo à quadra da escola Império Serrano, um trio de irmãs também trabalham duro. De domingo a domingo, Márcia, Nazaré e Mônica estão cuidando de suas barracas. Cada uma tem a sua ou as suas, sejam de roupa, bebida, objetos de higiene e beleza, entre outros produtos.

Márcia, a irmão mais velha, possui três negócios de rua em Madureira
Autor: Leandro Neves
O trio está no comércio do bairro desde 1974, quando elas, mais duas irmãs e a mãe iniciaram os negócios no local. Mesmo com o falecimento de uma das irmãs e da matriarca, elas continuam firmes no mesmo ponto.
A mais velha, Márcia, conta que pretende trabalhar o resto da vida em Madureira. Ela é imensamente agradecida por tudo o que conquistou na vida por meio de seu trabalho, como a construção de sua casa no bairro.
Confira o vídeo com o depoimento emocionante de Márcia
Outra figura tão antiga quanto as irmãs é o seu José Otoni. Ele chegou ao bairro em meados da década de 1970 e não arredou mais os pés de lá. Vendedor de bolos, doces e empadas, hoje ele possui uma pequena fábrica e pontos de venda em diversos bairros da cidade e da Baixada Fluminense.
Confira o vídeo com o depoimento de Seu José
Raio X de Madureira hoje
Diferentemente do início do século passado, hoje a região é densamente povoada. As fazendas sumiram e as favelas surgiram. Os ricos da região desapareceram, dando lugar a uma classe média e média baixa.
Os últimos dados do Índice de Progresso Social (IPS-Rio), de 2013, revelam a situação da região administrativa de Madureira. Nela estão incluídos os bairros de Bento Ribeiro, Campinho, Cascadura, Honório Gurgel, Marechal Hermes, Oswaldo Cruz, Rocha Miranda, Vaz Lobo, Turiaçu, além do que dá o nome à área.
Um dos principais problemas são as oportunidades de vida para a população, o acesso ao conhecimento básico, à informação e comunicação e, por incrível que pareça, à cultura.
No quadro abaixo, estão alguns dos itens que mais chamam atenção sobre o bairro nesta pesquisa. No quadro, foi feita uma comparação entre outras regiões administrativas: Botafogo, a primeira colocada no índice geral, Tijuca, a quarta colocada, Méier, a sétima, e Madureira, a vigésima.



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